segunda-feira, 26 de março de 2012

ÚNICO MOMENTO DE LUCIDES

                                                       "Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi."
                                                       (João, cap.19 - v. 22)


      Em não mais de meia dúzia de palavras, João registra  o único momento de lucidez de Pilatos, no episódio do julgamento que culminou com a crucificação de Jesus.
      De fato, o que ele havia escrito, com a sua atitude injusta de magistrado irresponsável, contra ele mesmo estava escrito!
      A Lei Divina registrara, nos mínimos detalhes, a sua participação no crime mais grave que a Humanidade, como um todo, até hoje cometeu.(Como nos disse o próprio Dr. Inácio em outra oportunidade: foi uma das maiores obssessão coletiva imposta pelas trevas)
      Curioso é que, deixando de lado as questiúnculas de natureza teológicas, nas quais Pilatos se envolve com os sacerdotes, discutindo por causa da legenda que seria colocada no cimo da cruz, em momento algum, ele se mostra disposto a rever a sentença condenatória, nos apelos que lhe haviam chegado pela absolvição do culpado sem culpa.
       Quanto, nas vidas que se sucedem nestes quase dois mil anos, não deve estar custando ao representante de César, na Judeia, a sua voluntária omissão e teimosia em fazer com que a força do cargo prevalecesse, talves até contra o clamor de sua consciência?
       As palavras pronunciadas por Pilatos revelam o peso do humano orgulho, cuja primeira vítima é sempre aquele que o ostenta.
      São muitos os que, de maneira insensata, repetem: 'não volto atrás"; "o que falei está falado"; "não me arrependo do que fiz e, caso pudesse, faria tudo de novo..."
      Nunca será demais recordar que, aquilo que o homem semear é o que, igualmente, haverá de colher, com as atenuantes e agravantes correspondentes à ação deflagada.
      Naquele momento, a Misericórdia Divina também concedeu ao governador romano a oportunidade de voltar atrás e, em pleno uso de seu livre-arbítrio, reescrever a própria história.
      Porque, entre o que deliberamos fazer e o que fazemos, sempre existe em nosso favor, diminuta fração de tempo que nos permite não desfechar o golpe ou sustar a decisão no gesto que, uma vez consumado, há de nos custar muito caro ao espírito!

Dr. Inácio Ferreira do livro  "O Jugo leve"

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