terça-feira, 21 de abril de 2015

Chico Xavier não parava.

        A verdade é que o Chico não parava. - gracejei - deve ter sido aquele homem da Parábola  que enterrou o talento e, depois, veio desenterrar tudo de uma vez e colocar a gente para "cavucar" com ele! - Eu me recordo - contou Modesta - de que, nos primeiros tempos de Espiritismo, em Uberaba, a gente, de fato, trabalhava pouco, limitando-se a comparecer às reuniões uma ou duas vezes na semana - nosso compromisso espírita terminava ali.
     - Com você não era assim, Modesta - discordei. - Você vivia com o Espiritismo na cabeça e nas mãos!
     - Inácio eu, como a Domingas, cheguei a sacramento, a procura de Euripídes Barsanulfo, quase completamente pertubada - não sofria ataques epiléticos, mas tinha visões, escutava vozes... Não tive recurso: trabalhava ou...trabalhava! Caso contrário, meu caro, eu teria sido a primeira paciente do Sanatório que ajudamos a construir!
    - Abençoados tempos, Modesta!
    - Os de hoje também são abençoados, Inácio! A diferença é que os processos obsessivos se sutilizaram de tal modo, que todo o mundo acha que é normal. As pessoas se entopem de tantos remédios que a mediunidade desapareçe...
     - Vivem em transe "quimico" e não medianímico - diagnostiquei. - Tomam um antidepressivo de manhã, após o café; depois do almoço e do lanche da tarde, tomam um ansiolítico; à noite, tomam algo para induzir ao sono... Não há quimismo cerbral que aguente! Em outras palavras, não há cérebro que não esteja entorpecido, dificultando a ação dos obsessores mais empedernidos.
     - Mas o quero dizer - ponderou Modesta - é que, aos poucos, de fato, Chico nos foi colocando para trabalhar mais: fazer sopa fraterna, costurar para os pobres, visitar doentes nos hospitais, peregrinar na periferia da cidade, ter mais assiduidade nos centros espíritas, contribuir para manutenção do centro e das obras.
     - Assumir a mediunidade! - exclamou Domingas
     -Sim, ter coragem de assumir a condição de médium.
     E mais: escutar as pessoas! E outra: não ter pressa de voltar para casa!
Este é um trecho dos dialogos mantidos entre o  Dr. inácio, Dr.  Odilon, Dona Modesta e Dona Domingas no Livro " Anjos Decaídos"
Dr. Inácio Ferreira