sexta-feira, 29 de junho de 2012

NÃO DESPREZEMOS

"Pode porventura um cego guiar a outro
cego? Não cairão ambos no barranco?"
- (Lucas, cap. 6 - v. 39)


      Não procuremos a indicação do caminho a trilhar com quem não consegue enxergá-lo, com nitidez, em todos os seus contornos.
      Não exijamos de nossos semelhantes além da capacidade que possuem de nos oferecer de si mesmos.
      Quando, no entanto, em dúvida quanto a certas decisões a serem tomadas, não desprezemos a experiência de quem já tropeçou e caiu.
      Não há quem possa ensinar sobre o que não tenha aprendido.
      É evidente que, consoante a palavra do Cristo, um cego não pode guiar outro, mas nada há que o impeça de falar ao amigo os perigos de se aventurar, no escuro, em estrada desconhecida.
      Não desconsideremos a vivência dos companheiros que - à custa de dissabores e reveses sofridos -, se transfiguraram em advertências vivas a quem preza viver de maneira insensata.
      Quem nunca chorou não consegue ser consolo para ninguém.
      Quem jamais passou fome não avalia o valor de um pedaço de pão para o faminto.
      Aprendamos a ouvir os que não nos falam com a autoridade da virtude que ainda não conquistaram, mas com a dor que trazem no espírito pelos erros que apenas passaram a identificar depois de muitas desilusões.
      Foi justamente quando, estando a expiar no madeiro, provou o amargo fel da ingratidão humana, que o Cristo falou a respeito do perdão com incomparável sublimidade.
      Ouçamos o que tem a nos dizer o homem de caráter ilibido, que desde o berço, não cometeu o menor deslize em sua trajetória, mas quanto possível, escutemos também aquele que, sob o equívoco de suas mazelas, tantas vezes, enveredou por atalhos inconvinientes, sem desistir de ratificar os passos na caminhada.

Dr. Inácio Ferreira do Livro "O Jugo Leve"

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